A reprimenda seguida por um tapa que o Papa deu numa fiel, que lhe segurou o braço, chocou o mundo.
Antes de perguntar pro Arnaldo, esse preâmbulo se faz necessário. No dia do meu batismo, na bela Catedral de Vitória, usava uma camisola de puríssimo linho branco, magnificamente bordada pela minha avó Lygia, queridíssima e de saudosa lembrança. Um ano e meio depois, Silvana, minha irmã, a usou na sua consagração. Era unissex. Nossa descendência, minha e dela, teve esse mesmo privilégio. Portanto, católicos na teoria, muito embora, há muito tempo, pessoalmente prefira a interpretação da Palavra pela ótica dos batistas.
Nosso Papa Francisco é o homem do momento. Consagrado em “Dois Papas”, um longa poético, de bela fotografia, cenários reais, flashbacks interessantes, esse filme, totalmente ficcional, divertiu-me. Nada mais além disso. Pelas magníficas interpretações de Bento e Francisco por Hopkins e Price eu mudaria o nome para “Dois Oscars”. Mais da metade dos católicos está em êxtase ao ver o mocinho vencer o vilão. Outro tanto de fiéis, talvez mais ligado à história da Igreja, mais aprofundado às biografias papais, conhecedor da politica do Vaticano e, principalmente, conhecendo Fernando Meireles, está mais pé-no-chão quanto à veracidade da proposta desse diretor de esquerda, militante do PT, marxista por ideologia, além do fato de ter sido lançado pelo Netflix que dispensa apresentações sobre seu posicionamento tendencioso e desrespeitoso sobre religião, família e tradição.
Mas não é sobre isso que escrevo. Mesmo porque as críticas de Alexis Parrot e Bernardo Küster sobre o pretensioso “Dois Papas” foram o que de melhor aconteceu na cena literária dessa semana que passou (links abaixo). Escrevo sobre o tapa que o Papa Francisco deu na fiel que lhe puxou o braço. O Papa pode bater, Arnaldo?
Vocês já imaginaram se Bolsonaro, na saída do Alvorada, como faz toda manhã, desse um tapa numa eleitora? Não teríamos outro assunto. Nem a queima de fogos da virada teria espaço naquela nossa velha conhecida imprensa. Comentaristas políticos, artistas, isentões e figuras carimbadas da esquerdalha podre estariam até agora se revezando em opiniões as mais ferinas e agressivas. Toffoli, Maia e Alco, já estariam reunidos arquitetando o impeachment do homem. Macron, sua bela esposa e a não menos bela Angela Merckel estariam se juntando àquela pirralha histérica sob a pajelança de Raoni, o cacique predileto da esquerda festiva, numa tentativa, junto à ONU, de impedir o presidente agressor, misógino e feminicida.
Se Bolsonaro desse um tapa em alguém, não chocaria tanto quanto nos chocou Francisco. Todos conhecemos o presidente, nunca fomos enganados e, mesmo assim, 60 milhões votamos nele e não esperamos que se torne um príncipe Charles. O tapa de Sua Santidade, porém, mostrou intolerância, impaciência, desamor e falta de piedade com aquela fiel mulher. Francisco estapeou também o Brasil na recente questão da Amazônia. Já nos tinha estapeado quando cancelou sua visita aos brasileiros em represália ao impeachment daquela senhora. Ao dizer “Eu compreendo esse trabalho. Para mim não foi uma ofensa” em relação ao presente de Evo Morales, aquela foice e martelo com Cristo crucificado no martelo, foi um outro tapa no conservadorismo e ortodoxia milenar da Igreja. Ética é uma virtude presumivelmente eterna.
Ou foi Bergolio que protagonizou tudo isso? Prefiro acreditar que sim e deixar que as boas ações e virtudes de Francisco, e são tantas, sublime qualquer deslize de natureza humana. Pelo sim pelo não, fiquemos atentos ao Evangelho de Mateus 7:15-20: “Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Cuidado com os falsos profetas. Eles vêm até vós vestidos com peles de ovelha, mas por dentro são lobos ferozes. Vós os conhecereis pelos seus frutos…
O Santo Padre desculpou-se publicamente pelas redes sociais. Reconhecer seus erros é coisa de Deus. Mostrou humildade. Sua atitude foi linda e sublime.
Meno male, graças à Deus!