O Governo acertou em cheio instituindo a reclusão social. Precisa agora remediar seus efeitos colaterais.
Vamos pensar assim: Se ficarmos hoje em casa, trilhões de coronavírus vão ficar na mão. Não vão ter quem contaminar e aí, meus amigos, essa turma invisível vai morrer no meio da rua. E que tenha uma boa hora! Mais uma batalha, mais uma vitória. Pra nós, claro! Se ficarmos amanhã, outra carnificina (virusficina existe?) e outra batalha vencida. Até aqui, Ok. Mas até quando?
Como cidadão e muito mais como médico não incorrerei em nenhuma desobediência à Autoridade de Saúde Brasileira quanto às suas estratégias de choque contra o vírus chinês. Jamais subestimei qualquer agente causal de doenças diversas. Uma gripe pode matar. Um panarício, uma espinha inflamada, uma facada, também podem matar. Meu lema profissional é que em Medicina, pelo menos na minha, devemos sempre prever o imprevisível e ponderar o imponderável. Até agora tem dado certo.
A quarentena é um período reflexivo e nos permite incursões a passados médicos recentes que preocuparam igualmente a humanidade. Em 2009, quando o H1N1 chegou ao Brasil, contaminou 58 mil e matou 2 mil brasileiros. O coronavírus até agora, desde janeiro, registra 1891 casos confirmados com 34 mortes. Numa manchete de capa de O Globo neste mês (quem diria?) estampa “H1N1 foi muito mais letal no Brasil do que o novo coronavírus tem sido na China”. Nem por isso o país parou, não houve ataques desumanos ao presidente à época, a economia se manteve e, pior, não teve cura. 11 anos depois, o H1N1 continua matando. Foram mais de 3 mil casos com 796 mortes no Brasil em 2019.
2,5 milhões de pessoas são contaminadas por gripe no mundo e 500 mil morrem por ano No Brasil este número está próximo de 2mil. Portanto, não há, até agora, como erradicar essa praga da humanidade. Medidas de prevenção, conscientização coletiva, vacinações e cuidados interpessoais são eficazes para a diminuição de mortes. Em qualquer pandemia viral, por mais paradoxal que pareça, a contaminação de metade da população é importante para a remissão do contágio. Uma esmagadora maioria não se ressente, adquire imunidade e não contagia a outra metade sã. Alguns, infelizmente, perecem muito em função de doenças pré-existentes. É assim desde que o mundo é mundo.
Assim como o H1N1, influenza, gripe aviária e outras viroses, o Codiv-19 continuará vivo e matando por anos. As medidas do governo são de impacto e acertadas. A reclusão social é necessária para diminuirmos o contágio e, enquanto isso, ganhamos tempo para o ajuste da infraestrutura de atendimento. Não podemos jamais negar a ciência e a nossa obrigação sublime de salvar vidas deve servir de exemplo às lideranças políticas que devem se obrigar a salvar a vida econômica do país. O que precisamos pensar e repensar é o período de quarentena. Na Coréia foram 15 dias de confinamento para conter o pico. Em Wuhan, 20. O Brasil parou e precisa de uma estimativa desse período sob pena de termos um outro problema, talvez mais letal do que o vírus. Desemprego, quebradeira, desespero, colapso financeiro, violência e fome. Sobrevém o pânico e pânico é doença mais grave do que virose. Ele precede a tristeza profunda seguida pela depressão, verdadeiro câncer da alma, que piora as morbidades, estimula o autoextermínio, destrói famílias porque mata igualmente.
E nessa reclusão alguns fatos afloram na minha memória. Se pensarmos que estamos em casa porque o dinheiro para construir Hospitais foram para estádios, ditaduras, refinarias sucateadas e corrupção, dói na alma. Se pensarmos que a crise do coronavírus começou em dezembro e a extrema-imprensa calou-se sobre isso e estimulou o carnaval, dói na alma. Se pensarmos que nenhum país do mundo soltou detentos por conta do vírus e que aqui é motivo pra tirar bandidos da cadeia, dói na alma. Ter que ouvir o governador de São Paulo dizer que está fazendo o que Bolsonaro não consegue fazer, dói na alma. Pensando friamente, ele tem razão. O Presidente não dá dinheiro pra jornalistas, não se vende pra ditaduras, não solta presos, não se elegeu nas costas de ninguém, não toma medidas oportunistas e não trai seu eleitorado.
Vivemos um governo conservador cujo líder é temente à Deus. Certamente, esse fato será determinante para a unção das mentes que, neste momento, pensam em nós e na pátria. Tão diferente dos seus antecessores e de sua claque de inconformados. Concluo com a máxima de que “toda crise possui 3 elementos: uma solução, um prazo de validade, e uma lição para nossas vidas”.