A Ciência não pode ser aviltada nem transgredida a bem da humanidade.
Caríssimos Ministros, permitam-me algumas reflexões sobre a decisão de quinta-feira.
Uma família que tenha um ente querido morto pelo vírus chinês tem 100% de perda, tristeza, dor e saudade. Uma família que tenha um ente querido recuperado do vírus chinês tem 100% de alegria, felicidade, regozijo e gratidão latu sensu. Estas estatísticas são inquestionáveis.
Até o dia de hoje, 7.162.978 brasileiros foram acometidos pelo vírus, pouco menos que 3,5% da população. Aproximadamente 90% deles, 6.322.955, foram recuperados e estão curados. 839.843 estão em fase de recuperação e 185.650, pouco menos que 2,6% do total geral destes desafortunados, pereceram, do ou com o impiedoso micróbio.
Não importa esses números que, para a Medicina, em plena pandemia, são baixos em letalidade e mortalidade. A morte é inexorável. É feia. É indesejada. São vidas ceifadas, pranteadas, insubstituíveis. Famílias devastadas. Pais, mães, avós, filhos, netos, sobrinhos, amigos, deixaram lacunas que não se reparam. E nós médicos sabemos disso e nos sensibilizamos com isso.
Somos obrigados, porém, e por dever de ofício, enxergar a Medicina sob a ótica pragmática da estatística, da frieza inexorável dos números e do positivismo científico que balizam nossas ações, sempre orquestradas, embasadas e alicerçadas no rigor da ciência e no esteio da ética, presumivelmente eterna e inarredável de qualquer ato médico.
Muito embora a Medicina seja uma ciência dinâmica, portanto de conceitos técnicos que mudam com a sua necessária evolução, somos obrigados, por juramento público, a cumprir um código de comportamento que, aos moldes da Constituição Federal que os senhores tanto conhecem e zelam, é também formado por parágrafos pétreos, portanto imutáveis, como o cuidado, zelo, atenção e, sobretudo, ética que devemos ter em relação ao nosso maior patrimônio, o paciente.
Quanto orgulho da Medicina aqui exercida! Quanto orgulho da Autoridade de Saúde Brasileira (lê-se Ministério da Saúde, CFM, AMB, ANVISA) que, em meio a intoleráveis narrativas de cunho político, desatinos de algumas autoridades executivas, interesses, ingerências e desmandos descabidos, achaques da extrema-mídia, responde com tamanha competência, esta mesma revelada pelos números acima, incontestáveis, emblemáticos e irretorquíveis.
A vacina é necessária. O que não é necessário é o açodamento injustificado. Não se pode passar por cima de preceitos básicos da ciência como querem alguns Laboratórios de pesquisa. Não se transige com a Medicina milenar. A pandemia do SarsCov-2 tem um índice de letalidade média mundial que não condiz com essa pressa que fere mortalmente os conceitos científicos, pulando etapas e aviltando normas que regulam a pesquisa séria em todos os seus âmbitos.
A decisão de Suas Excelências em torná-la compulsória maculou indelevelmente a liberdade de ação da Medicina Hipocrática. Acordamos diminuídos e tristes. Não merecíamos isso. Lembro-me bem do Ministro Marco Aurélio perguntar ao jornalista José Neumane Pinto se ele não confiava na Suprema Corte de seu país. É a hora de nós médicos e Autoridade de Saúde Brasileira perguntar-lhes, data venia, se não confiam na ciência de seu país.
Caros ministros, peço-lhes com respeito que revejam sua decisão sobre o que ainda não existe. Não há lastro científico para tal. Releiam o voto conciliador do Ministro Kassio. Deixem a decisão da obrigatoriedade no âmbito científico e sigam o mundo. Por favor, não cassem a liberdade das pessoas. Deem um crédito de confiança à Autoridade Sanitária brasileira para homologar e referendar as vacinas da esperança na hora certa e no momento certo.
Escrevo-lhes de Minas, a terra cujo primeiro compromisso com o seu povo é a liberdade. Terra de Carlos Chagas, Ivo Pitanguy, Hilton Rocha, Juscelino Kubitschek, Cícero Dias, Naftale Katz, Sérgio Pena que, cada um ao seu tempo, honram a Medicina brasileira com sua ciência isenta, essencial, necessária mas, sobretudo, livre.
Com um abraço de respeito e estima