Os isentões são uma entidade, sobretudo, perigosa. Muito embora sejam contemporâneos de Adão e Eva, eles vêm se aperfeiçoando ao longo dos milênios atingindo o “apogeu da glória” nestes últimos anos, especialmente no Brasil de hoje. “Você vai perder o seu tempo escrevendo sobre esses caras, Cadu? Você tá sem assunto?”
Pois é! A princípio pode parecer mesmo um desperdício dedicar um texto inteiro pra tecer comentários ou tentar entender a figura do isentão, mas, na atual conjuntura política, talvez seja prudente conhecê-lo. Trata-se de um ser pernicioso, asqueroso, seboso, escorregadio, sem personalidade que se caracteriza por não tomar partido. É aquele cara que gosta de criticar, mas nunca assume uma postura. É do tipo que não quer jamais se comprometer. Um covarde! Uma espécie de hipócrita demagogo!
O isentão nasce assim. Faz parte da sua índole. É o “simpático” que jamais desagrada, que não cria arestas, que quer estar bem com todos e tem certeza que a neutralidade é o caminho da felicidade, pelo menos da sua. É o típico 171, o em-cima-do-muro, o amante do meio-termo. Na política, é aquele cara que se diz “terceira via” defendendo-a como solução dos problemas políticos brasileiros. Não quer se comprometer com a terrível polarização que nos encontramos visando sempre tirar proveito próprio, seja pra que lado penda a balança.
O que me preocupa é o isentão cromossômico, esse mesmo que professa a isenção em tudo na vida. Torce pro Galo mas se o Cruzeiro ganhar não foi tão ruim assim, porque o chefe cruzeirense vai estar feliz e pode até lhe dar um aumento. Não confundam com otimismo. Atleticano raiz prefere a mendicância a ver o Cruzeiro vitorioso. E vice-versa, claro!. Portanto, a isenção nesses caras é algo instintivo, visceral, genético. E é aqui que mora o perigo.
Por essa máxima razão acho prudente e super necessário apresentar o “Manual do Isentão” para aqueles que exercem sua arte sem pensar nas nefastas consequências que poderão advir do automatismo de suas atitudes isentonas. Que fique claro que este “Manual” é para o isentão distraído, se é que existe, que se envereda no perigoso campo da política partidária brasileira.
- “Não sou Lula nem Bolsonaro” = É Lula.
- “Não sou nem Esquerda nem Direita” = É Lula.
- “Voto na Terceira Via” = É Lula.
- “Bolsonaro fala com muita rispidez” = É Lula.
- “O voto é secreto” = É Lula.
- “Prefiro votar em branco” = É Lula.
- “Vou anular meu voto” = É Lula.
- “Gosto do Bolsonaro, mas…” = É Lula.
Em suma, se você se encontrou neste texto mas ama seu país, preza pela sua total liberdade de ação, expressão e pensamento, é pela família, pelos costumes, pela moral, pela decência, pelo crescimento do Brasil como povo e nação, não lhe peço para mudar sua característica isentona. Mesmo porque isso é impossível. Apenas peço que pense e repense na merda que você poderá fazer no momento político mais importante de nossas vidas, desde Cabral.
Em tempo: Refiro-me a Pedro Álvares Cabral. Aquele outro Cabral ainda espera por aquela super canetada que lhe permita uma outra farra de guardanapos. Pelo visto, está próxima.