DIA DO PROFESSOR – O HERÓI ESQUECIDO

Uma exaltação à saga dos professores, publicada há 64 anos, que continua atualíssima. Até quando?

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Nesse 15 de outubro, Dia do Professor, transcrevo aqui mais uma vez o atemporal poema  “Canoeiros” do meu saudoso avô, Kosciuszko Barbosa Leão, professor, jurista, filósofo, escritor, Membro Emérito da Academia Espírito-santense de Letras, publicado neste dia, há exatos 64 anos no Jornal Correio da Manhã, em homenagem aos professores brasileiros. Pra mim, a obra prima do meu avô.

CANOEIROS

Ó canoeiro, que vais e que vens nesse rio, / Ou de dia ou de noite, ao sol, à chuva, ao frio / De margem para margem! / Canoeiro da passagem, / Em teu rio, que corta / O caminho e interrompe o passo aos peregrinos, / És no destino, igual à chave de uma porta. / És a chave, que abre a porta dos destinos.

Sem os teus remos, sem / Tua brava canoa / E o teu braço valente a tua mão tão boa, / Impossível passar destas margens além. / É um abismo esse rio, em que o viajor trasladas. / Há tantos rios sempre, assim, pelas estradas! …

E, por isso, canoeiro, eu muitas vezes cismo / No infortúnio dos que, na estrada caminhando, / Não te encontraram mais, para a passagem, quando / Chegados, afinal, à margem desse abismo.

És, pois, a condição da marcha e, todavia, / Os passageiros teus / Mal te dizem adeus, / Depois da travessia.

E, se és tu, que a buscar mais passageiros, dizes / Adeus aos que se vão, mal ouves as respostas. / Jogam no meu chapéu uns níqueis e, felizes, / De novo a caminhar, voltam-te logo as costas.

Mas que importam, canoeiro, esses males que arrostas? / A tua glória está nessas margens, que ligas, / Duas margens opostas, / De que teu braço faz duas margens amigas.

Que te importa que fiques, / Por teu árduo labor, apenas com uns níqueis?

O teu pequeno mundo encerra o mundo inteiro. / Olha, eu sei de um canoeiro…

Ele é também, coitado, / Um pêndulo a oscilar, de lado para lado, / Entre as margens de um rio – uma espécie de ponte / Na estrada interrompida, / Para os que querem ir aos longos do horizonte, / Na jornada da vida.

Ama também, como amas. / Mas não tem, para amar, teus lindos panoramas. / E diferem, no mais, a sorte dele e a tua. / Basta-te a vil migalha, / Que o passageiro atira ao teu chapéu de palha. / Tua camisa é livre e tens a espádua nua.

Mas nesse remador, teu traje humilde espanta. / É preciso mentir. / E ele usa uma gravata, / Que a garganta escraviza e é como um nó que o mata. / É um nó na garganta.

Tu tens a cabana / E aí tu és senhor, / Uma voz soberana. / Mas esse outro canoeiro é um simples remador, / Que mora na cidade e, em meio a tantas casas, / Muitas vezes não tem onde pousar as asas/ – Os seus remos, que são os remígios das almas, / Para os voos triunfais, que fazem toda a glória / Dos homens e, afinal, das pátrias, sob palmas, / Na universal e eterna aclamação da História.

Ó Pátria! Meu Brasil! Teu máximo operário/ É esse remador. / Bem vês, um proletário, / Ó Pátria, o  professor. 

Dedico “Canoeiros” à D. Zulmira Ferreira, minha 1ª professora, e aos meus mestres médicos Olívio Louro Costa, Evaldo D’Assumpção e Ivo Pitanguy.

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  1. Parabéns Amigo Cadú!
    Lindo e verdadeiro texto!
    Uma dupla homenagem: ao seu saudoso Avô e à todos os professores do Brasil, os quais insistem e nunca desistem!
    Para provocar suas inquietudes políticas sugiro que vc escreva sobre a “Patria Educadora” – sobre um dos maiores crimes do Brasil – enterramos caminhões de dinheiro em Educação e fomos para a rabeira do Pisa! Parabéns à esquerda que consegue levar vantagem e não entregar resultado até na Educação! Obrigado por me propiciar um desabafo!
    Abraços fraternos!

  2. Cadú, recordo-me bem desse poema e fiquei muito honrado em vê-lo também dedicado a mim. Ser professor hoje, em nosso Brasil, exige coragem, persistência e fé, para ser um canoeiro que não deixa o barco ir à deriva. Abraços, Evaldo

  3. Uma preciosidade! Linhas que só se nivelam com os maiores poemas de nossa literatura.
    Os professores ganham pouco , mas também como eles, muitas outras profissões caminham para sua substituição pelo digital, pela inteligência artificial IA, todavia ainda que máquinas e programas superem a capacidade de ensinar dos mestres ou de cuidar dos médicos, jamais terão algo que se lê nas entrelinhas deste maravilhoso poema: a SENSIBILIDADE e o AMOR de quem escreveu! A alma é o que nos eterniza!
    Bom domingo a todos.
    Osiris Martuscelli

  4. Parabéns meu querido!
    SHOW, SHOW, SHOW !
    Repassando agora…
    Você mora no meu coração com vista para as
    melhores artérias!
    Beijo carinhoso
    Soemis Leão

  5. Muito bom, meu querido amigo!
    Nunca foram tão necessários, os professores, mesmo assim não conseguem seu lugar vorizado na sociedade destroçada!!
    Sábio e belo poema do seu avô!!
    Um grande abraço!!
    Múcio Leão

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