Os palavrões, embora nada ortodoxos, têm o seu lugar quando ditos na hora certa
Os palavrões não nasceram do nada. Segundo Luís Fernando Veríssimo, são recursos extremamente válidos e criativos para enriquecer o vocabulário de qualquer idioma.
São expressões que traduzem fidedignamente os sentimentos genuínos, fortes e verdadeiros de um povo que tenta construir algo sui generis. Portanto, é o povo criando sua própria língua sem que isso leve a nossa “Última Flor do Lácio” a patamares de vulgarização mas apenas sua maior aproximação com as pessoas simples, seja nas ruas, feiras, estádios ou escritórios, expressando seus sentimentos, índole e emoções.
Sob essa ótica, o direito ao palavrão é um direito de expressão que, por sua vez, é garantido por aquela famosa Carta.
Feita essa introdução, vamos aos fatos. “Que PR mal educado!” “Isso não é palavriado próprio de um PR.” “Falta decoro exigido pelo cargo.” “Esse cara é um tosco. Impeachment já!”. “A liturgia do cargo passou longe desse Sherek.” Claro que é a oposição falando. Impiedosa, implacável, sorrateira, destruidora, demolidora de reputações, mentirosa e, sobretudo, burra. E a sua burrice é um bálsamo para o PR.
Quanto mais bate, quanto mais difama, quanto mais trama, mais se enreda nas suas teias odiosas, inconformadas e antipatrióticas. Não aceitam o timoneiro mesmo sabendo do mar revolto, das tempestades e dos icebergs. Não se dão conta de que estão nesse barco e que vão a pique sem ele. E o timoneiro, a cada pedrada, cresce e se fortalece naqueles que nele creem e o veem como o caminho da marcha. Burros e cegos, graças à Deus!
Ao invés de uma pequena trégua em função desse estado de coisa que vivemos, nas dificuldades que se avizinham, na necessidade premente das reformas que caducam naquelas Casas e na conscientização política pela pátria, surge o Leite Moça como mais uma tentativa de desestabilização.
Claro que é uma estratégia, uma cortina de fumaça para as tenebrosas transações nos porões do Congresso às vésperas das mudanças em seu comando. Das suspeitas de traição nos bastidores do Jaburu e das ações conjuntas de partidos, OAB e entidades religiosas junto àquela Suprema Moradia.
É a facada, o Queiroz, o óleo no mar, o porteiro, a Marielle, a queimada na Amazônia, o oxigênio de Manaus, as alcunhas de fascista, genocida, misógino, racista e, por fim, o leite condensado. E aí, o cara, que não tem sangue de barata, manda a putaquepariu e que as latas de leite fossem enfiadas no rabo daquela imprensa que tanto conhecemos.
Novamente evoco Luís Fernando Veríssimo. No seu famoso “Direito ao Palavrão”, Veríssimo afirma que quando alguém manda alguém à PQP “ela retorna ao seu eixo”. “Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça”.
Ao sugerir o destino para as latas de leite condensado, com aquele indefectível “enfia no c… da imprensa” o PR, segundo Veríssimo, “retomou as rédeas de sua vida, sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai à rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e um renovado amor íntimo nos lábios”.
“Mas que feio, né Cadu?.” “Feio? Feio é a roubalheira, a corrupção, o toma-lá-dá-cá, os desmandos, o oportunismo, o aparelhamento, o comunismo, o desemprego. Isso é feio!”
Jair Condensado é grosseiro, mas profundo e autêntico. Usou a língua viva. Não importa se inculta e malcriada. Foi bela naquele momento e merecida pelos destinatários.