Nesse Dia dos Pais prefiro falar sobre filhos, razão sublime da paternidade e maior privilégio da existência do homem.
Ser pai é ser agraciado pelo mais extraordinário milagre da vida. É construir o mais inquebrantável vínculo de amor entre dois seres. Ser pai é o cargo mais importante, desafiador e intenso ocupado por um homem.
É tanto amor que, confesso, queria mesmo minhas filhas só pra mim. Que elas nunca crescessem, que não saíssem de casa sem minha escolta ou de Thaïs, que pudessem ser eternamente protegidas pelas minhas asas, que não casassem, que não corressem riscos, enfim, minhas propriedades registadas em cartório, como efetivamente são, mas sem outros direitos que não eternamente nossas crianças.
Mas “Os filhos são criados para o mundo”. “Os filhos crescem e batem asas”. “Os filhos são filhos da vida”. “Por isso deixará o homem a seu pai e a sua mãe” (Marcos 10-7). Que teorias mais desagradáveis! Será que não entendem o que se passa no coração de um pai? Trata-se apenas de um egoismozinho inofensivo sublimado pelo amor e, certamente, perdoado por Deus que nos faz ouvir a voz da razão, freando ímpetos e sensações e abrindo a mente para a realidade da vida.
Segundo Saramago, “filhos são seres que nos emprestaram para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos defeitos para darmos os melhores exemplos e, sobretudo, de como aprender ter ainda mais coragem para enfrentarmos a sua perda para o mundo. Perda? Como? Não são nossos. Lembram-se? São apenas empréstimos.”
Dalai Lama afirma que bom pai é aquele que vai se tornando desnecessário com o passar do tempo. Embora possa parecer, à primeira vista, algo semelhante a desamor, explica-se o “desnecessário” como algo que nada tem a ver com o nosso amor incondicional de pai e mãe que é infindo, mas não deixar que a força desse amor provoque vício e dependência nos filhos a ponto deles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Só assim estarão prontos para programar seu futuro, discernir sobre suas escolhas, superar frustrações e, por que não, cometer seus próprios erros e, por si só, resolvê-los?
O que nos acalenta como pais, na nossa maneira de criá-los, é a certeza de que tentamos fazer o melhor para nos tornarmos “desnecessários” estando, porém, sempre aqui como seu porto seguro para que atraquem nas mais diferentes horas e momentos de suas vidas, sempre de braços abertos para o abraço apertado acalentado por um amor maior que o mundo.
Meio chateado, confesso, dou preferência à razão sem abdicar das coisas do coração. O amor em relação às minhas filhas espalha-se até a última célula e dá o tom na nossa missão de prepará-las para a vida, para o mundo e para a liberdade evocando outra máxima de Dalai Lama, que diz: “Dê a quem você ama, asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar”.
Flávia, Eduarda e Luiza, (e por que não meus igualmente adoráveis cãezinhos, Bartô e Vic?), muito obrigado por existirem. Se não fossem vocês eu não teria desenvolvido essa preciosa capacidade de amar incondicionalmente e, certamente, não seria o mesmo homem, tão feliz e realizado.
Feliz Dia dos Pais, minhas filhas!