Não é lenda. No Japão, tido como uma das mais tradicionais culturas do mundo, o professor é o único profissional que não se obriga a curvar-se diante do imperador.
Não é lenda. No Brasil, tido como uma das mais tradicionais republiquetas terceiro-mundistas no quesito educação, o professor é mais um profissional a curvar-se diante da indiferença.
Nesse 15 de outubro, Dia do Professor, para amenizar tanto descaso com o nosso máximo operário, fica a minha homenagem transcrevendo aqui novamente o poema “Canoeiros” do meu saudoso avô, Kosciuszko Barbosa Leão, professor, jurista, filósofo, escritor, Membro Emérito da Academia Espírito-santense de Letras, publicado neste dia, há exatos 64 anos no Jornal Correio da Manhã, em homenagem aos professores brasileiros. Pra mim, a obra prima atemporal do meu avô.
CANOEIROS
Ó canoeiro, que vais e que vens nesse rio, / Ou de dia ou de noite, ao sol, à chuva, ao frio / De margem para margem! / Canoeiro da passagem, / Em teu rio, que corta / O caminho e interrompe o passo aos peregrinos, / És no destino, igual à chave de uma porta. / És a chave, que abre a porta dos destinos.
Sem os teus remos, sem / Tua brava canoa / E o teu braço valente a tua mão tão boa, / Impossível passar destas margens além. / É um abismo esse rio, em que o viajor trasladas. / Há tantos rios sempre, assim, pelas estradas! …
E, por isso, canoeiro, eu muitas vezes cismo / No infortúnio dos que, na estrada caminhando, / Não te encontraram mais, para a passagem, quando / Chegados, afinal, à margem desse abismo.
És, pois, a condição da marcha e, todavia, / Os passageiros teus / Mal te dizem adeus, / Depois da travessia.
E, se és tu, que a buscar mais passageiros, dizes / Adeus aos que se vão, mal ouves as respostas. / Jogam no meu chapéu uns níqueis e, felizes, / De novo a caminhar, voltam-te logo as costas.
Mas que importam, canoeiro, esses males que arrostas? / A tua glória está nessas margens, que ligas, / Duas margens opostas, / De que teu braço faz duas margens amigas.
Que te importa que fiques, / Por teu árduo labor, apenas com uns níqueis?
O teu pequeno mundo encerra o mundo inteiro. / Olha, eu sei de um canoeiro…
Ele é também, coitado, / Um pêndulo a oscilar, de lado para lado, / Entre as margens de um rio – uma espécie de ponte / Na estrada interrompida, / Para os que querem ir aos longos do horizonte, / Na jornada da vida.
Ama também, como amas. / Mas não tem, para amar, teus lindos panoramas. / E diferem, no mais, a sorte dele e a tua. / Basta-te a vil migalha, / Que o passageiro atira ao teu chapéu de palha. / Tua camisa é livre e tens a espádua nua.
Mas nesse remador, teu traje humilde espanta. / É preciso mentir. / E ele usa uma gravata, / Que a garganta escraviza e é como um nó que o mata. / É um nó na garganta.
Tu tens a cabana / E aí tu és senhor, / Uma voz soberana. / Mas esse outro canoeiro é um simples remador, / Que mora na cidade e, em meio a tantas casas, / Muitas vezes não tem onde pousar as asas/ – Os seus remos, que são os remígios das almas, / Para os voos triunfais, que fazem toda a glória / Dos homens e, afinal, das pátrias, sob palmas, / Na universal e eterna aclamação da História.
Ó Pátria! Meu Brasil! Teu máximo operário/ É esse remador. / Bem vês, um proletário, / Ó Pátria, o professor.
Dedico “Canoeiros” à D. Zulmira Ferreira, minha 1ª professora, e aos meus mestres médicos Olívio Louro Costa, Evaldo D’Assumpção e Ivo Pitanguy.
Ola Cadu. Devendo um comentario sobre a cronica do Professor. Impressionante mesmo e o texto do seu avo. Agora sabemios de onde vem a sua veia poetica… Abc
Julio Pinheiro
Seu avô, Cadú, sempre atual… E obrigado pela lembrança… Evaldo.
Seu avô, Cadú, sempre atual… Evaldo.
Seu avô, Cadú, sempre atual… Evaldo
Que maravilha. O triste é saber que, 64 anos depois, nada mudou, ou melhor, piorou muito
Rey Figueiredo
Eles merecem todas as nossas homenagens. Sem eles o que seria de nós?
PS: D. Zulmira também foi minha professora. Bjo
Belíssimo! Saber reconhecer é apanágio de almas nobres.
Helio Paoliello
Muito boa crônica
LFAR
Muito bom. Parabéns. Justo reconhecimento aos seus mestres.
José Murilo
Boa noite Cadu.
Já disse e repito. Você herdou o dom do seu avô! Quanto ao imperador do Japão, procede a referência. Mas não é só o imperador. Todos por lá respeitam e reverenciam os mestres. Vivi isso pois quando lá estive constava no meu passaporte o meu primeiro emprego de carteira assinada: Professor de Matemática!
Não quis colocar médico de propósito!!! E valeu!
Um abraço.
Osiris Martuscelli
Parabéns Carlos. Emocionante!
Charles Simão
Espetacular a poesia do seu AVÔ.
Eu tenho o maior respeito aos meus grandes professores: meu PAI, minha MÃE e a todos os que por minha vida passaram.
Sem eles nada seríamos.
Meus “Canoeiros”.
Alex Wagner
Parabéns!!! Muito boommm!!! Todos(?) fomos marcados por bons professores, que nos deixaram saudades!



Giovanna Freire
Que belo reconhecimento aos nossos queridos professores, injustiçados nesse país! E que analogia fez seu sábio avô! Parabéns pelo resgate do respeito que os mestres merecem!
Cido Carvalho
Que belo reconhecimento aos nossos queridos professores, injustiçados nesse país! E que analogia fez seu sábio avô! Parabéns pelo resgate do respeito que os mestres merecem!
Cido Carvalho
Pesquisei aqui no Google e descobri a origem da família Leão.
Ah, família de espanhóis e portugueses Leon e Leone, também descendentes de Abrão.
Nossa, origem hebraica, inteligentes e cultos, e o nosso amigo neto deste poeta magnífico.
Meu amigo, aproxime-te mais de seus ancestrais e com esta capacidade literária, transforme mais suas crônicas em histórias que vamos saborear.
A minha curiosidade foi desperta nestas palavras pelo dia do professor, que tão bem , para variar , conduziu.
Eduardo Belisario
Você tem de onde tirar sua veia poética
Emerson Fidélis
Muito lindo!!! Parabéns também a você, amigo, eterno professor de nós todos!!! Grande abraço! Ian Duarte
Parabéns Cadu pela linda homenagem e respeito aos seus mestres! Parabéns a vc tbm que é Mestre na arte de construir e reconstruir o Belo!!! Beijão

Sônia Saadi
BELA REFLEXÃO!!!!

BOA CADU . PARABÉNS!!!
Benjamim Gomes
Danadim de bão nosso tio Kosciusko. Se vc me autorizar, republicarei no meu Instagram.
Essa família Leão é cultura demais . Parabéns meu amigo
Marcos Menegazzo
Agora ficou bem fácil entender de onde vem esse seu gen literário.
André Auersvald