Levantamos cedo. Coleiras em Batô e Vic e lá fomos nós, eu e Thaïs, fazer uma das coisas que mais gostamos na vida. Passear com essas criaturinhas pelas ruas da Savassi nos renova na paz que necessitamos para continuar com a vida. Hoje, diferentemente de outros, é um dia especial que se comemora uma pretensa e histórica libertação conseguida há exatos 201 anos.
10 horas da manhã. Sol preguiçoso, sem muita vontade de se desvencilhar das nuvens que cobriam a Av. Getúlio Vargas. De repente, ouvimos, a dois quarteirões, algum rufar de tambores, sons abafados de cornetas, tubas e clarinetes vindos da Afonso Pena, principal via da bela capital dos mineiros. Fomos até lá.
Ao chegarmos, sem querer dobramos o número de pessoas que compunham a platéia e, por essa máxima razão, sentimos a felicidade dos protagonistas impecavelmente fardados que marchavam protocolarmente desanimados apesar desse aumento significativo e repentino da referida platéia que os assistia.
Na realidade o que essas pessoas realmente queriam era apenas atravessar a belíssima Avenida em direção às suas rotinas e estavam impedidas por um bando que as atrasavam. Nada mais do que isso. Nenhum entusiasmo. Nenhuma bandeira. Nenhuma camisa verde-amarela. Nenhum sinal de brasilidade. Nenhuma sensação de esperança.
Quem leu os livros “Independência: A história não contada” do escritor e pesquisador Paulo Rezzutti (Editora Casa dos Mundos – 2022) e “1822” do renomado Laurentino Gomes (Editora Nova Fronteira -2010) toma um susto descomunal com a verdadeira história desse dia contada após anos de pesquisa.
D. João VI, já de saco cheio disso aqui, deixou Pedro I como regente. O cara, com 24 anos, saiu do Rio em direção a São Paulo com o objetivo de resolver disputas envolvendo a família de seu ministro José Bonifácio, aliado na movimentação pela independência, e assegurar o apoio da província à emancipação. A turma montava mulas e não belos cavalos alazões como pintados por Pedro Americo naquele célebre quadro.
Segundo Laurentino Gomes, no seu “1822”, D. Pedro I estava numa caganeira monumental naquele 7 de setembro que o obrigava parar em cada moita que encontrava. Numa dessas paradas, o príncipe já cansado daquele mato, do desconforto dos gravetos e sabugos de milho usados para se higienizar e com cólicas monumentais, recebe as famosas cartas de José Bonifácio e da princesa Maria Leopoldina informando sobre despachos de Lisboa extorquindo ainda mais o Brasil.
O cara já puto de tanto se esvair não teve dúvida e proferiu em alto e bom som: “Laços fora, soldados! Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade do Brasil. Independência ou morte!” Há que diga que “pela minha caganeira” estava também na célebre frase. Mas há controvérsias.
E para completar o 6,5 de setembro de 2023, já que ficou muito longe do que representa o histórico e verdadeiro 7, assisto, atônito, no Morning Show da JP News o senhor Paulo Mathias, em êxtase, afirmar, pasmem, sobre o sucesso de público nesse dia, Brasil afora, que marca definitivamente o retorno da “lua-de-mel do Sr. PR com as Forças Armadas”.
Quanto ao “L” feito pela 1ª Dama, de dentro do famoso Rols Royce e do vestido vermelho, especialmente escolhido para a data, o jornalista Felipe Monteiro, do mesmo programa, disse que aquele “L” significava “Liberdade” e que vermelho era apenas a cor predileta daquela senhora e quem pensava diferente era gente implicante e invejosa.
Diante disso, o que nos resta é rezar para que o dia 6,5 de setembro retorne o mais rápido possível ao apogeu da glória contada naquele lendário dia 7.