Vivi uma época em que aeroporto era algo chic. As pessoas que por lá transitavam, passageiros ou não, trajavam-se bem, comportavam-se conforme o ambiente, com classe e educação o que se repetia com os funcionários, sempre corteses e atenciosos, frequentemente disputando a primazia de melhor atendimento com os seus iguais concorrentes.
Lembro-me do meu avô, meu pai, meu sogro, a absoluta maioria de sua geração invariavelmente de terno e gravata e as mulheres com o glamour que o ambiente exigia para as viagens aéreas.
Não peguei essa época. Na minha juventude a informalidade deu lugar à belle epoque de outrora mas completamente longe do que se vê hoje em dia. Aeroporto passou a ser um ambiente deletério, uma espécie de “Rodoviária do Ar”.
Atrevo-me compará-los com mercados de quinquilharias como o Mercado Central de BH ou Ver-o-Peso de Belém, ou ainda um Shopping Oi da capital dos mineiros ou uma 25 de março “indoor” dos paulistanos. O Grand Bazaar de Istambul ou os melhores “mercados tipo persa” mundo afora entram altivos nessa equiparação quando se trata de aeroportos com voos internacionais.
Embora a maioria reformado e com boa infraestrutura, o problema deixou de ser o espaço físico mas sim quem o frequenta. Outro dia, em Viracopos lotado, um casal jovem sentou-se no chão por falta de assentos. Até aí tudo bem não fosse o mancebo retirar sua bota tipo texana e começar a cortar suas unhas do pé direito. O pior foi a companheira lixando o que restou da primeira operação enquanto ele iniciava a segunda no pé esquerdo. O amor é lindo!
Esqueçamos as riders, havaianas, regatas, bermudas, travesseiros de estimação com aquelas fronhas babadas e ensebadas e as indefectíveis mochilas, a maioria surradas e com a infalível garrafinha de água enfiada em um de seus compartimentos. Tudo isso faz parte do conjunto cênico que caracteriza hoje a cafonice dos aeroportos brasileiros.
Insuportáveis são alguns detalhes que ainda pioram esse martírio que tem sido enfrentar aeroporto. Vocês já repararam que nas esteiras rolantes, pensadas para acelerar a caminhada de passageiros atrasados, sempre existem babacas parados atrapalhando quem está com pressa? O que esses idiotas pensam da vida, meu Deus? Que estão num parquinho de diversão caminhando num chão que anda sozinho?
Já dentro da aeronave, não está no gibi o que eu e, certamente, a maioria que me lê, já tomamos de mochilada na cara enquanto colocamos ou retiramos nossa bagagem dos compartimentos superiores por apressadinhos insensíveis que não nos esperam tratar nossas tralhas.
O único fato positivo deixado pela pandemia durou pouco. Refiro-me à saída das aeronaves feita ordenadamente pelo número dos assentos. Foi um período áureo de educação e civilidade na aviação civil. Acabaram os atropelos, as mochiladas na cara e malas na cabeça de quem ainda estava sentado. Infelizmente a loucura permanece e o desembarque voltou a ser insano e medieval.
A espera da bagagem nas esteiras rolantes quase coincide com a duração do voo de tão demorada. Mas se chegam ou chegam sãs e salvas de avarias devemos por as mãos pro céu e esquecer a demora.
Não sei você, mas se a malha rodoviária brasileira fosse de qualidade pelo menos razoável eu dificilmente passaria por tanto dissabor nesses muquifos de 5ª categoria que se tornaram nossos aeroportos.
Mas até lá, bom voo a todos! Talvez “todes”. Fica mais coerente.
Com certo atraso, um comentário de uma frase só: o que você descreveu, Cadú, nao foi os aerorodoportos, mas a nossa propria PÁTRIA AMADA, estropiada, violentada, desfigurada, e outros “adas” mais, (des)governada pelos 400 ladrões, acobertados por um… Abraços, Evaldo
Mesmo com nossa malha rodoviária atual viagens com até mil km não me colocam em aeroportos.
Ahahah, ri mto Kadú, porque comecei a visualizar mentalmente as nossas viagens. Osvaldo chama de Paraquedas as tais mochilas. Terríveis.
Mas Vc com a sapiência que te cabe, nos transmitiu mais uma vez , perfeitamente o que é viajar hoje.
Mas olha, não é só no Br. não. Só que ficamos no grupo da categoria mais elevada do indesejável.
😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂😂 Tudo é nivelado por baixo , mas muito baixo.
Miró
Com certeza Cadu . Mudou completamente. De volta da jornada Carioca Santos Dumont … Campinas. Saída 10h…desinformação e desconsideração total , entra , sai revista de novo, uber , Galeão . Chegamos 20h.Dia dos pais programa único aeroporto all day.
Concordo com vc prefiro meu carro. Abc.
Pura verdade Cadu! 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻
Hoje em dia está fora da curva, antigamente era outro naipe!
Fabiano Penido.
Como o mundo mudou, meu caro ?!
Alex Wagner
Concordo com tudo. Menos comparar os aeroportos com o nosso Mercado Central. Ali as bancas estão sempre limpas e organizadas. Os vendedores alegres e gentis, as mercadorias de melhor origem . É uma atração turística mundial. Ele é um ícone!
José Murilo
👏🏻👏🏻👏🏻 perfeito!!!!
Kitamura
Cadu, tenho certeza absoluta que telepaticamente passei para você o tema dessa crônica. Você captou meu pensamento quinta e sexta-feira quando fui a SP e fiquei analisando os passageiros dentro do Aeroporto de Congonhas e dos aviões da AZul
JB
Essa é mesmo nossa realidade, Cadu.
Emerson Fidélis
Parabéns Cadu , totalmente de acordo, tá difícil mesmo, Adorei mercado Perza
Alfonso
Sensacional.Parabéns!!
Abraços ,
Cícera
Boa noite, Cadu! Gostei do texto. Abraço.
Bernadete
Exatamente, um horror!
Foi -se o tempo do glamour , de uma boa educação . A galera tomou conta , uma triste realidade . Abraços , nina .
Querido Cadu !!!! Você falou tudo .
Suas crônicas são sensacionais 👏👏👏
Marcos Menegazzo
Leão, boa noite!
Talvez por ser mais velho que você, me fez lembrar não de viagens internacionais, mas de viagens nas pontes aéreas, década de 70, em meus primeiros passos profissionais, engenheiro novo, nas reuniões com meus superiores, entre Rio , S.Paulo e BH.
Era o aeroporto da Pampulha, embarque em uma sala arrumada, organizada,oassageiros de terno e gravata, poltronas macias, café servido por funcionárias das empresas aéreas, jornal à disposição e chamadas com fila única, organizada e respeitada.
Saudades da Varig, Vasp e outras, suas aeromoças lindas em seus uniformes chics que nada deviam aos trajes dos mais famosos estilistas da época.
E os lanches , verdadeiros almoços,condicionados nas famosas maletinhas(a Varig então, primava pela qualidade), muitas vezes presenteadas
para levarem para casa.
Hoje contente-se com pacotinhos de amendoim e biscoitinhos piraquê.
Empresas aéreas que nunca ouvimos falar, com seus ATRs.
Pois é, muito bem posto e com classe, como sempre.
Poderia ficar relatando mais, mas você já apresentou o mais importante.
Abraço!
Eduardo Belisario
Parabéns mais uma vez !
Leila Gontijo
Brilhante !!!!👏👏👏👏
Josemar
Exelente crônica
Realmente é um nojo
Marlene
Pura verdade CADU.!!!
Luís Alberto Leite
Só não gostei da mentira que não pegou a época chic kkkkkkkk
Tonho Bumachar
Grande verdade! Recente passei por esse quadro, tão bem descrito por você!!! Parabéns! Grande abraço! Ian Duarte
Verdade e Perfeito meu amigo.
Forte abraço
Cadú isso é só o começo, veremos capítulos posteriores!
Hélio Paoliello
Concordo plenamente !
Fala Leão , li e gostei, sempre bem humorado.
Paulo Kuczynski
Kkkkkkkkkkkkk sempre tem um babaca parado na esteira mesmo! Adorei
Luiza
Cadu, você como excelente médico, é sempre cirúrgico nos seus comentários, abrangendo todas as etapas das nossas sofríveis
viagens aéreas .
Parabéns!!!
Abcs
Sergio Mascarenhas
Verdadeiro absurdo a falta de educação !!!!! Falou e descreveu muito bem o horror aéreo!!! Parabéns Cadu!!!!! Beijão ❣️
Sônia Saadi
Muito bom Cadu!!!!!👏👏👏👏👏👏Grande Abraço
Bidi
LAMENTÁVEL!!!
MAS, O QUE TEMOS !!!
Benjamim Gomes
Caro Leão,
suas crônicas sempre de um realismo contundente e assertivas !
Você poupou os banheiros …. terríveis, sem nenhum asseio e ventilação. FEDIDOS, impossível
usá-los. Quanto ao traje inadequado, isto é uma constante.
Eu me lembro que nas primeiras viagens feitas para a Europa, nos bons tempos da VARIG, era comum na classe executiva e primeira, sem ostentação, se usar um blaser e mesmo gravata. Nossa Varig com suas lojas sempre muito bem localizada, em todos os lugares do planeta.
Representando o nosso Brasil.
Não faltavam obras de arte de grandes pintores nestes espaços e nas salas VIPs.
Quanta diferença !
Waldir Simões
Essa é uma triste realidade. Nojento
Wagner
Kkkkk vc falou exatamente o q eu e Marco sempre falamos.. povo barango, sem educação.. o pior mesmo é qdo o avião chega.. “TODES” levantam na maior pressa, uma bagunça só!! Nunca vi tanta pressa pra sair 😩
Lucienne Amanteia
Sempre preciso,a sociedade atual ,politicamente correta,isentona,sem credo,sem ética e sem família,se veste desta forma,onde vale tudo.
Grande abraço
Tens toda razão! Principalmente quando falas da saida ordeira e educada em tempos de pandemia! Chega a dar vergonha alheia! Povo mal educado ou mal cobrado?
Ze Octavio
Boa noite, Cadu. Tem toda razão seu desabafo sobre nossos aeroportos e os neo-passageiros. Lamentável. Abraços.
Hélio Arêas