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…E o Instagram, essa fonte inesgotável de inspiração dos cronistas amadores — categoria literária em que humildemente me encaixo — segue revelando pérolas do comportamento humano.
O insight de hoje nasceu de uma sequência de postagens sobre um tema que, acreditem, está em alta nas redes sociais: o peido. Sim, senhoras e senhores — isso mesmo que vocês leram.
Palavra medonha, de sonoridade grotesca e zero vocação poética. Um termo que deveria ser exilado do português, paradoxalmente “Última Flor do Lácio” que não merecia tamanho agravo.
Doravante, decreto solenemente: nada de “peido”. Adotarei “pum”, “flato”, “traque” ou, em casos de extremo requinte, “bufa” — todos igualmente vexatórios, mas de certa sofisticação semântica. Afinal, a língua também merece um desodorante linguístico.
O fato é que esse terrível substantivo masculino acompanha a humanidade desde Adão. E aqui surge a grande dúvida da Antropologia do Ridículo: quem foi o primeiro a estrear a arte? Ele ou Eva?
Segundo o perfil “VIRAFATOS”, no Instagram, há fortes indícios de que a honra — ou a desgraça — tenha sido de Eva. Diz o relato que, na Idade Média, as mulheres mais desejadas eram justamente aquelas que soltavam “puns”, de preferência os mais aromáticos e vigorosos. Acreditava-se que esses gases eram manifestações sagradas de purificação — o chamado “sopro da virtude”.
Os maridos, por sua vez, orgulhavam-se do talento perfumado das esposas. Em tabernas e feiras, entre goles de hidromel, vangloriavam-se:
— “A minha mulher, senhores, é tão virtuosa que uma bufa sua limpa o ambiente mais rápido que incenso do Vaticano e extermina ratos, baratas e outros peçonhentos num raio de 50km.
Era outra época. Um “flato” bem dado após o jantar, tipo Gás Sarin intestinal, espantava doenças, inveja e até visitas inoportunas. E, convenhamos, se eu fosse a visita, correria antes do segundo ato dessa ópera gasosa.
O mais curioso, porém, era o rito pré-nupcial. Antes do casamento, a jovem noiva reunia-se com um conselho de anciãs e soltava o “pum” da aprovação. Se o aroma fosse suficiente para desmaiar meia dúzia de velhas, tipo Propofol em aerosol, estava apta ao matrimônio. Já as que continham o “traque” por pudor eram vistas como almas impuras, acumulando pecados e gases. Pode isso, Arnaldo?
Intrigado, recorri ao Google — essa Barsa digital temperada com fofoca — e encontrei “EUSOUSTEPH”, uma influencer Especialista em Monarquia por Westminster (ou por Hogwarts, talvez).
A moça garante que, na Idade Média, o corpo feminino era visto como território de pecado e, por isso, vigilância constante. Textos médicos falavam sobre gases, sim, mas nada de “virtude perfumada”. Segundo ela, nada disso tem base real. “Essas punzentas precisavam mesmo de jejum e oração”, conclui em tom moralista.
Se esses tempos fossem agora, eu não teria dúvida:
“— Alexa, pare o 3I/ATLAS! Quero uma carona pra Plutão!”
Lá, certamente, o cheiro seria mais ameno!
P.S.: Escrever sobre “puns” e citar o Lácio na mesma crônica é, no mínimo, um feito civilizatório. Se Camões tivesse lido o Instagram, talvez “Os Lusíadas” cheirassem um pouco diferente.
Dizem que amor é como peido: se for forçado dá merda!😂
Alguns comentários aqui feitos maculam e deturpam o seu escrito desenvolvido dentro de um alto padrão de civilidade e educação. Essas opiniões escrachadas chocam os leitores. Uma pena.
Tales
Espetacular, Cadu! Só você para descriminalizar o pum! E com a criatividade, irreverência e humor de sempre!
Cido Carvalho
Cadú, você enfrentou com galhardia um tema difícil. Em matéria de peido eu só conheci, verbalizado, um velho e rabugento adágio: “peidos e filhos só se suportam os próprios “. Aí você me vem com este fantástico “Tratado do Peido”, que me odorizou benfazejamente um domingo até então modorrento, eis que me brindou com texto que chamei de “Habeas Corpus” do toba, pois me liberou o próprio para o peido sem culpa, o peido lúdico, o peido libertário, o peido amigo… Viva o peido e o peidorreiro! Benício Felizardo:
Sua verve aBUNDA. Alliás vc poderia aproveitar o ensejo e escrever sobre esse maior patrimônio brasileiro: a bunda. Fica a ideia. Kkkkkkkkkk. Vai ser um show. 😘
José Mário
Extremamente criativo. Parabéns
Raul Canal
Hahahahaha!!! Eh, Leão. Nunca vi tanto zelo para escrever sem parecer tosco. Pois você conseguiu. Articulistas com a sua característica de texto devem passar o maior perrengue diante de histórias pedregosas (ou mal cheirosas) como essa de hoje. ADOREI!!!
Gilmar P. Lucenna
🤣 Estou rindo até agora… sensacional a forma como vc abordou o “problema”.
Valter Bernat
Cadu meu amigo !! Suas crônicas são um fenômeno . Kkkk
Abração
Menegazzo
É CADÚ,você sempre nos surpreendendo.
Adorei.
Acredito agora que você não nega um “peido” a um amigo !!!😃👏👏👏
Alex Wagner
Muito bom kkkkk
Elcio Espíndola
Convenhamos Cadu;quem nunca peidou debaixo das cobertas para sentir o dito cujo?E um orgasmo nasal! E peidar imitando sons conhecidos,como berrante do Pantanal,metralhadora de fazer invej a Bonnie and Clayde,ou squele trovao com 8.0 na Escala Richter ,ou ate mesmo um fino agudissimo como o cantar de um pintassilgo.
Sim, peidar e libertador!
Menos meu vizinho centenario que so pratica o ato dentro do elevador…
Abc
Julio Pinheiro
😂😂😂😂Boa! Puético!
Vagner Rocha
Cadu
Só vc para colocar arte até nos puns
👏👏👏👏👏👏
Sebastião Nelson
Poucas vezes vi esse tema ser abordado com tanta elegância. Genial a maneira como discorre o texto, um misto de irreverência educada e humor fino, passando longe do grotesco, do bizarro, do burlesco. Parabéns!
Parizzi
Eta Cadu, só você mesmo pra ter alguma inspiração para escrever um texto deste.
Bhering
Excelente crônica!
Na minha casa com as minhas crianças não se fala ; “cagar, mijar e peidar ,palavras grotescas que nuca entrou na minha mente.
Aqui é: fazer cocô, fazer xixi e soltar pum!
Como me incomoda esta palavra “peidar”
Fato relevante esse de quem exalou o primeiro flatus… numa visão psicanalítica (de boteco), é importante saber tb se o autor do flatus apreciou ou deplorou o aroma. Diz-se por aí que só o “dono” desse filho feio é capaz de gostar dele. Gostando, acredita-se que se trate de amor próprio. Não gostando, pode ser baixa auto estima. Já, se o parceiro (a) tb apreciar, aí é amor verdadeiro!
Kkkkk essa crônica de hoje não me cheirou bem.
Célio José de Oliveira
Aqui em casa as meninas (esposa e filha) se o fazem, só em caixinhas em caixinhas da Channel
Poxaaaaa…..hoje o tema foi no mínimo contrangedor!!!! Kkkk
Rita
Cadu o universo é muito pequeno para você.
Parabéns mais uma vez.
😂😂😂😂
Paulo Randal
Realmente há muita filosofia sobre o mesmo… alguns dizem que “foi a ultima tentativa do XX falar”!!! Kkkkkkk gasosa essa sua crônica hoje Cadu!!
Ze Octavio … prrrrrummmm
Hahahaha… confesso que o título me chocou! Inda mais vindo deste autor (elegância e diplomacia materializados nele).
O texto foi um deleite: de tema mal cheiroso, esviscerou a humanidade fisiológica, com classe e irreverência… findei aprendendo um pouco de história comportamental, e rindo muito!