ENOCHATOS: QUANDO O VINHO VIRA PIADA

Dificilmente existe algo mais chato do que conviver com os pseudos-entendidos de vinho.

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…e Jesus, numa festa de casamento na Galiléia, transformou água em vinho. João 2:1-11.

Apenas para comprovar que o vinho tem a sua importância garantida numa história que se conta há mais de 2000 anos. Claro que essa importância não existiria se os “enochatos” estivessem presentes nesse casamento, já que os convivas haveriam de pedir a Jesus que revertesse o milagre.

É mais do que sabido que o “chato” é uma entidade em ascensão no mundo. Já os  “enochatos”, termo descrito pela primeira vez pelo dramaturgo Walcyr Carrasco, são uma variação mais complexa dessa organização que tem sido objeto de estudos e pesquisas da psiquiatria cuja expectativa é de que se trata realmente de seres esnobes, pernósticos e pedantes. 

Os “enochatos” são pessoas com fortíssimas tendências à “malas-sem-alça”. Fazem um cursinho básico sobre vinhos, normalmente de fim-de-semana, leem alguma literatura de Google, e, a partir daí, posam como verdadeiros experts que “se acham” diante de plateias leigas. 

O vinho não merecia esses caras. O vinho é um clássico das mesas através dos milênios nas mais variadas culturas, indiferentemente de seu status sócio-cultural. O vinho coloca em igualdade nobres e plebeus, reis e súditos, presidentes e povo, ricos e pobres numa interação interpessoal sem precedentes na história dos humanos.

Só não coloca em igualdade os verdadeiros enófilos, enólogos, sommeliers e apreciadores normais do bom vinho com esses verdadeiros “pés-no-saco”.

Vocês já repararam nesses “enobabacas”? Seguram a taça pela base. Se você segurar pela haste será veementemente repreendido por tamanha heresia. Turbilhonam o vinho com movimentos circulares em sentido anti-horário com a naturalidade de uma centrifuga. Ai de quem prefira o sentido horário! Alguns “enobobos” utilizam tanta rotação por minuto que, eventualmente, molham suas camisas, sofás, poltronas e mármores brancos  das casas de amigos, estes sempre veladamente putos da vida. 

A pesquisa do bouquet é sempre hilária. Encaixam a taça entre o queixo e o nariz numa inclinação de 36,04º em relação ao meridiano 47 e inspiram profundamente sei lá o quê (nem eles). Cabeça ligeiramente inclinada pra trás, olhos fechados e um ar de mistério. Invariavelmente acenam positivamente pra alegria de incautos embevecidos. Aprovado!!!

Segue a degustação do primeiro gole. Uma apoteose! Bochecham o vinho por 3 segundos para depois empurra-lo em direção à bochecha direita. Aqui permanece por impreteríveis 2 segundos. Já na esquerda, 4 segundos. As esquerdas, até na boca, são sempre mais complicadas, inconfiáveis, enganadoras e persuasivas. Voltam com o líquido para o meio da boca. Engolem. Fecham os olhos. Intermináveis 10 segundos e, finalmente, o veredicto.

“Aroma de frutas vermelhas dos bosques do Loire. Taninos fortes. Rascante num primeiro momento até a explosão de craquejas que o torna mais aveludado. A única crítica é a temperatura. Poderia estar 1,36° mais baixa e aí o aroma se desprenderia com mais facilidade”.

É mole? E tem gente que acredita! 

Caso imaginasse a possibilidade da existência dos “enochatos”, Jesus certamente teria preferido transformar a água das Bodas de Caná em whisky ou cerveja. Mas como a Sua obra é completa, inspirou o enólogo Mário Telles a rebater a “enochatice” dizendo: “Não seja chato. Deguste na hora de degustar. Não contribua para a injusta imagem de esnobismo que a degustação de vinhos tem junto ao público”. 

Xiiiiiii! Esqueci-me daquela estranha cheirada que dão na rolha quase enfiando nariz a dentro! Sem ela os “enochatos” não completariam a sua arte!

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  1. Muito bom Cadu.
    Enochato é elogio.Bouquet,PH,aroma,no palato,cheirar rolha………Quanta bobagem.O mais importante do vinho é a pessoa com quem você está degustando.Do de 10 ao de 100 dólares.Tom Back

  2. Boa semana mestre Cadu e leitores.
    Apesar de bisneto de italiano, não sou seletivo em vinhos. Bebo sem frescura.
    Um dos maiores especialistas em vinhos do mundo certa vez foi preso por fazer leilões e fortuna com vinhos falsificados .
    Então o bom vinho para mim é o que cabendo no bolso o seu custo não me dá dor de cabeça e todos bebem felizes!

    Tim Tim e boa semana!
    Osiris Martuscelli

  3. Sensacional como sempre Leão. Conheço alguns desta espécie em ascensão kkkk
    Aqui em Miami São os Wine experts
    É de doer
    Alex

  4. Cadu
    Fantástico
    Até porque você com elegância poupou os enólogos e conosseurs de fato. Aliás, elegância sempre foi sua virtude que você consegue permear em suas crônicas , por mais áridas que sejam
    Continuo cada vez mais seu leitor entusiasmado
    José Carlos daher

  5. Caro Leão, uma das mais lindas crônicas que já escrevestes. Tomando um bom vinho moscato de garrafão ( ou de “garafon “ como dizem os italianos aqui da serra ) neste Domingo chuvoso aqui em Porto Alegre, transmito um grande abraço. Uebel

  6. Bom dia ,Cadú.
    Você é mesmo um “CARA” espetacular .
    Você sempre emoldurando idéias que concordo 100%.
    Essa então é ótima .
    Abração .
    Alexandre Wagner

  7. Pior ainda quando fazem esta encenacao toda(cheirar,balancar a taca etc)com cerveja! E a postura de lorde?Bom mesmo e cachaca:manda de uma vez e solta o indefectivel AHHH!com direito a estalo lingual e o veredito final”:Essa e da boa!”
    Um brinde Cadu!
    Julio Pinheiro

    1. Bebo qualquer vinho desde a infância, com avós italianos!
      Serviu na caneca, copo de água, taça com borda quebrada ou caneca de café, o vinho é bom com comida, qualquer uma! Enólogos ou Enochatos ou que for, bebam com vontade e determinação! Entornem com uma boa massa ou carne! A boa sensação vem depois! Relaxamento e sono profundo!!!! O resto é conversa fiada! Chata para c*** dos dois lados!!!

  8. O vinho…ah! Quantos crimes se cometem em seu nome!…(Espero não haver guilhotina por perto…).
    Mas, fica uma dica: o melhor vinho, é aquele que você toma prazerosamente, e o aprecia. Até o inesquecível “Sangre de boiô”… Especialmente com um pequeno grupo de pessoas agradáveis… Prosit!!! Evaldo

  9. Bom dia Cadu! Amei a sua crônica sobre os “chatos” do vinho 🍷. A primeira vez que vi toda palhaçada que vc descreveu tão bem,sobre a apresentação da bebida,achei muito engraçada. Mas ,de vez em quando,neste mundo muito louco e feio,surgem figuras esquisitas ,que caracterizam a época que vivemos! Vc descreveu a chatice perfeitamente ! Parabéns e Feliz domingo!!! Beijão ❣️
    Sônia Saadi

  10. Tomo vinho Com regularidade, como parte dos prazeres da boa mesa Desde 1981… E aprendi umas poucas e simples coisas Nesse ramo…

    As mais importantes são:

    1 – o vinho melhora a comida e a comida melhora o vinho!

    2 – O melhor vinho é aquele que se toma com um amigo, bom ou ruim, será de qualquer forma inesquecível!

    3 – Não discuta com chatos, nunca! Especialmente se for bebendo e sobre preferências!

    Um bom domingo para você família.
    Dan Mendonça

  11. Boa Cadú.
    Existem 3 tipos de vinho:
    Até 10 dólares a garrafa, De 10 a 30 e acima de trinta.
    A melhor escolha é sempre: Tinto ou branco.
    E ao provar um vinho o melhor comentário é “Tem gosto de uva.”
    E chega. 😜
    Toledo

  12. Boa Cadú.
    Existem 3 tipos de vinho:
    Até 10 dólares a garrafa, De 10 a 30 e acima de trinta.
    A melhor escolha é sempre: Tinto ou branco.
    E ao provar um vinho o melhor comentário é “Tem gosto de uva.”
    E chega. 😜

  13. Um grande amigo acaba de nominar esse lítero trabalho de Enochatacrítica. Kkk.
    Porque? Por que só um longo e esnobe neologismo para melhor definir o conteúdo de sua crônica
    João Batista Oliveira Filho

  14. Caro e saudoso amigo .
    Que belo artigo . O bom humor é aquele que revela a verdade e nos faz pensar sobre ela. Teu artigo mostra isto. Parabéns
    Sérgio Carreirão

  15. Ahahah
    Conheço um na Plástica. Gosto dele , ou melhor , gostamos. Mas não é fácil não. Mas não é só com vinhos. Hj é Vinho, mas Já foi Whisky no passado. E sei lá o que mais
    Mas acho que isto é algum desvio , em Psiquiatria é bem explicado.
    Mas que é dose , é.
    Bacioni Grossi , e buona Domenica
    Loretta Saldanha

  16. Realmente pessoas que não conhecem vinho e não apreciam no só lhes resta ficarem a escrever contra quem os apreciam.
    Sugiro ao escrevente repensar sobre o assunto.

    🍷️🍷️🍷️🍷️🍷️

  17. Kkkkkk, hilário, e bem verdadeiro.
    Realmente a novela do “enochato” para tomar um vinho e caracteriza-lo acaba depreciando o momento sublime de apreciar uma boa prosa ao lado de bons amigos junto a uma taça de vinho, qq que seja ela.
    Gde abraço, ótimo domingo.
    Alex Meira

  18. Kkk, fiz questão de mandar para alguns amigos bem enochatos que me criticam quando eu digo apenas: gosto, não gosto mas não sei porque…

  19. Bom dia, Cadu. Já havia lido uma crônica sua sobre os enochatos. Não sei se é a mesma ou uma variante da mesma. Sempre bom ler e reler o que você escreve. Grande abraço.
    Hélio Arêas

  20. Perfeito meu amigo. E ainda usam a linguagem vinicoles para completar. Ja travei alguns chatos com o conhecimento medico das papilas linguais( quatro sabores) e formas de face. Confundem cheiro com sabor. Etc Bom domingo 👍👍👍🍷🍷
    Bozola

  21. Bom dia, Caro Amigo Cadú! Parabéns, lavou a minha alma, um abstêmio de origem ( nunca consegui tolerar a ingestão de qualquer tipo de bebida alcoólica !) , mas não intolerante com os que curtem ! Aliás convivo muito bem com a condição de eterno motorista da rodada!
    Agora, além de não fazer uso, não me interessar pelo tema , ainda aguentar a tchurma dos eco, eno et alli, acompanhados do seu inexorável denominador comum “chato”, é literalmente, de fuder!
    Ótimo domingo !
    Lincoln

  22. Kkkkkk como sempre se superando kkkkkk
    Tenho uma boa história :
    Meu irmão foi VP do Banco CCF ( Credit Commercial de France) e o presidente , um francês insuportável e ácido ofereceu um jantar para todos os VPs e serviu um vinho para degustação…. E pediu para um deles ( o qual acredito estava de marcação) descrevê- lo. E o enochato puxa saco se desfez em elogios , ressaltando os morangos da Transilvania e o couro das rezes da Noruega…. E que deveria ser um vinho da região tal e tal….Aí o chefão acabou com ele de forma radical na frente de todo mundo, pois era um vinho nada especial , foi uma cena dantesca kkkk
    Gosto de vinho , tenho minhas tendencias baseadas em meu paladar , já fiz vários cursos , mas mantenho minha forma simples e objetiva de avaliá- los , repudiando esses verdadeiros pentelhos!
    Parabéns , me diverti kkkk
    Forte abraço, Leão!
    Elcio Espíndola

  23. Bom dia !
    Estamos indo para Mendoza com um grupo de amigos .
    Enviei a sua crônica para que o grupo não siga este exemplo !
    Vale o alerta !
    Pois , Cláudio e eu concordamos plenamente.
    Obrigada !
    Maria Marta Zollinger

  24. Já vi enochato dizer que não gosta de vinhos de tal país por serem muito “apimentados”! Afff … segundos depois vejo-o pondo pimenta em seu prato! Pode??? Excelente Cadu!
    Bj Ze Octavio

  25. Kkkkkk bela descrição. Aprendi com o enóloga da Casa Silva no Chile que o que importa é se você apreciou o vinho. O resto, se você não for um enólogo ou sommelier, mera encenação.

  26. Não sou um bebedor de vinho, mas aprendi com um jornalista e enólogo que o melhor vinho é aquele que cabe no seu bolso e agrada seu paladar. Excelente Domingo
    Cesar Almeida

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VALEU, SILVIO!

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