Maradona e o grotesco do excesso

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Quem procura cirurgia plástica não quer se destacar na multidão, mas juntar-se à ela.

Maradona é a minha inspiração pra hoje. Não pela genialidade incontestável nas quatro linhas. Não pela famosa “mano de Dios”. Não pela presunção de se achar melhor que Pelé ou pela sua vida particular pouquíssimo ortodoxa. Inspira-me o seu rosto após a cirurgia plástica.

Aos que pararam tudo para me ler nesse momento, confesso que estou tendo a mais nítida das impressões de que há uma turminha, aqui e no mundo, brincando com a cirurgia plástica, talvez a mais longeva das especialidades médicas. Só para vocês terem uma ideia, Sashuta Samhita, mil anos antes de Cristo, já reconstruía narizes de indianas adúlteras que os tinham barbaramente amputados como castigo pelo mais antigo dos pecados capitais. Enquanto Cabral nos descobria, o italiano Gasparo Tagliacozzi reconstruía faces e narizes acometidos por diferentes traumas, tumores e queimaduras com técnicas geniais que, dependendo da gravidade das lesões, ainda podem ser utilizadas por doutores contemporâneos.

Se vocês me pedissem pra definir cirurgia plástica numa só palavra, não hesitaria: proporção. Uma face sem nariz é desproporcional como é a mulher sem uma de suas mamas ou com elas muito pequenas ou muito grandes em relação ao seu manequim. Edmond Rostand imortalizou a desproporção do nariz em relação ao contexto facial no célebre “Cyrano de Bergerac” e descreveu, com rara maestria, o trauma psicológico que um defeito estético pode trazer aos humanos.

Por essa máxima razão a frase “Quem procura a cirurgia plástica não quer se destacar na multidão e, sim, se juntar à ela”, atribuída ao incomparável Ivo Pitanguy, resume, profunda e filosoficamente, a essência dessa especialidade milenar comprometida hierarquicamente com a função e a forma, latu sensu. Eternamente essencial e necessária para a preservação e consolidação da máxima “mens sana in corpore sanu”, a cirurgia plástica é o meio utilizado pelos seus especialistas para tratar as imperfeições natas ou adquiridas que devastam impiedosamente o psique de seus portadores.

O que hoje assistimos é um total descompromisso com a seriedade que a medicina exige, não só por parte da referida turminha mas também por médicos de variadas especialidades agrupados sob a pretensa “Medicina Estética”, especialidade não reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina. Arvoram-se a procedimentos que necessitam de sensibilidade estética. Esquecem-se que as mãos do cirurgião plástico, diferentemente de outros especialistas, são dotadas de um senso estético que não se aprende, portanto, não se ensina. É nato. Daí as mesmas caras, todas sem expressão e paralisadas por excessos irresponsáveis e incompetentes do extraordinário botox.

Preenchimentos labiais deformantes, semblantes igualmente deformados por implantes e enxertos faciais mal indicados, excessos de tração nas cirurgias de rejuvenescimento facial com rostos esticados além da conta, são os grandes responsáveis pelas aberrações que, atônitos, temos visto nos Michael Jacksons da vida, nos Maradonas, nas Donatelas Versace, além de tantas celebridades brasileiras e, também, pacientes comuns que, inspirados nesses monstros, assustam pelo aspecto grotesco dos excessos.

O que se tem visto atualmente, principalmente por obra daquela turminha, é uma total inversão na relação medico-paciente onde esse define o que quer e aquele aceita passivamente independente da indicação precisa que balisa a medicina. Dizer não aos excessos é obrigação do cirurgião plástico e faz parte do seu vasto conhecimento ancorado em seis anos de medicina e cinco anos de especialização.

A cirurgia plástica não é e não pode ser responsabilizada por esse estado de coisa, embora saia respingada pela falta de critério de alguns. Cabe a nós que pensamos diferente e que formamos especialistas com o referendo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica reforçarmos o pensamento ético que norteia o cirurgião plástico. Não basta saber cortar e costurar com destreza. O médico precisa estar compenetrado e comprometido com a medicina e jamais transgredir aquele compromisso milenar saído da ilha de Cós e que, um dia, juramos cumpri-lo.

*Carlos Eduardo Leão é médico e cronista

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