O ano era 1945. A cidade era Clichy, ao norte de Paris. Os amigos e sócios eram Marcel Bich e Edouard Bouffard. Esses caras inventaram a caneta BIC, um clássico do design e da arte moderna, exposta nos maiores Museus do mundo e uma das poucas unanimidades da Terra.
Com faturamento anual em torno de 2bi, lucro estimado de 260mi e valor de mercado em módicos 7bi, tudo em euros, a caneta azul da BIC – a lenda – é responsável por frases antológicas de
marketing como “Fazemos pequenas coisas que fazem grandes mudanças”.
E aí, quando Manoel Gomes, grande poeta do cancioneiro popular brasileiro, compôs “Caneta Azul”, sua obra prima, as vendas da BIC só não foram ainda maiores quando comparadas com o
anúncio feito pelo PR de que ela, a BIC, era as sua caneta oficial.
🎵 Caneta azul, azul caneta, se mal usada você leva o povo à sarjeta. Caneta azul, azul caneta, se bem usada você compõe bela opereta. Caneta azul, azul caneta todo cuidado é pouco para que não tenha letalidade de baioneta. Caneta azul, azul caneta, você foi precisa na demissão do Mandetta. Caneta azul, azul caneta, por favor, retorne a paz ao Planeta.🎵
Feita a devida introdução, teço loas à BIC de Bolsonaro que deixou o Brasil em estado de graça. Com ela, o PR assinou o decreto do perdão, um documento épico, original, histórico, transcendental em defesa da maior virtude de um povo: a liberdade.
A pátria sem liberdade não fala, não reivindica, não tem direitos, não tem dignidade. Engana-se quem pensa que o PR defendeu um aliado. Ele defendeu o respeito às normas, às regras e os
conceitos que regem um povo para o convívio pleno e civilizado. Não fosse aliado, agiria da mesma forma pela sua sempre coerente intransigência pelo jogo jogado nas quatro linhas da Constituição.
Nada justifica a retórica tosca de Daniel. Porém, com muito boa vontade, cabe uma pergunta que poderia explicar o desatino: O que leva um homem de bem aos extremos da insanidade verbal?
Alguém proibir um policial de subir os morros do tráfico em defesa dos semelhantes, atenta contra o seu juramento, viola a sua vocação e limita seus atos em prol da segurança, da ordem e da vida.
Proibir um médico de exercer sua ciência em prol da sobrevivência humana, um advogado de defender a liberdade de seu constituinte, um engenheiro de calcular corretamente a viga que
sustenta vidas, certamente despertariam em cada um deles os mais primitivos dos instintos. Somos humanos, temos defeitos e limites de tolerância.
Mas foi por causa de uma palavrinha de nossa “última flor do Lácio”, dessas que ocupam o baixo clero do idioma, que a caneta azul de Bolsonaro saiu do bolso para a História. “Qualquer” é um
pronome comum, mas sui generis. É a única palavra da língua portuguesa cujo plural tem um “s” no meio. E no artigo 53 da CF ela aparece altiva: “Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil
e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.
Não há outra interpretação. Não há outra argumentação. Não há mais paciência. Não há mais saco pra tanto desmando, desrespeito e traição à Carta Magna. O PR foi “terrivelmente” provocado. Foi a gota d’água para exercer, com a coragem dos grandes líderes, todo o seu poder que emana indiscutivelmente do manual de instruções do Brasil.
Parabéns, PR! O povo, estamos felizes, dando graças à sua graça que o consolida como um dos grandes personagens da História.
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