O que mais me espanta e me diverte, confesso, é que estamos em pleno Século XXI, já pousando em Marte, mandando inteligência artificial escrever poesias melhores que Drumond e, ainda assim, nada, absolutamente NADA, substitui o inabalável, imortal e inextinguível CARIMBO. Sim, ele mesmo, o bastião da burocracia, o relicário da autenticidade, o escudo sagrado da inutilidade institucional.
Originado no Brasil lá pelo século XVII, o carimbo não apenas sobreviveu — ele se perpetuou gloriosamente! Tal qual uma entidade sagrada, resistiu à modernidade, ao e-mail com certificado digital, à biometria, ao blockchain e, talvez mais notável, ao bom senso.
Porque sim, o carimbo não é só um utensílio: é um símbolo nacional. Uma entidade espiritual da burocracia. Um ícone que, junto com a fila de banco, a declaração em três vias e a assinatura reconhecida com firma aberta, forma a Santíssima Trindade da papelada brasileira.
E onde quer que você vá — cartório, prefeitura, gabinete, setor de RH, delegacia, caverna medieval do INSS, nada, absolutamente NADA, anda sem uma vigorosa, rotunda, autoritária… carimbada. Pode faltar energia, água, funcionário, mas o carimbo? Jamais!
Eis que surgem os seres míticos: os “pilotos de carimbo”. Ah, essas criaturas etéreas, que pairam sobre balcões de fórmica como semideuses do aval. Eles não acham que mandam no mundo. Eles sabem. E fazem questão de demonstrar. Com o carimbo em punho, selam destinos, abençoam formulários e decidem se sua vida anda ou não. Papas da papelada. Xerifes do xérox.
Recentemente, em um momento digno de um filme de Buñuel com roteiro do Kafka, fui fazer uma prova de vida que, pasmem, ainda existe. Após 90 minutos de purgatório, sob o jugo de um ventilador de teto que mais cochichava do que ventilava, ouço a sentença:
— “Infelizmente faltou o carimbo.”
Claro! Porque o que prova que estou vivo não é meu coração batendo, minha respiração ativa ou o suor pingando na testa. É o carimbo. Só ele atesta a vitalidade de um cidadão brasileiro.
Sou então instruído a ir para a “fila da esquerda para carimbar”. Chego ao guichê:
— “O rapaz do carimbo foi almoçar.”
Naturalmente. O carimbo não pode ser manuseado por qualquer mortal. É coisa séria, sagrada, ritualística. E a fila da esquerda… não é política, claro que não! Só coincidência.
Agora, pensemos em nós, médicos. Já imaginaram nossa existência sem o carimbo? É impossível! Somos apenas meio médicos. A outra metade é… o carimbo. Ou seja, somos seres incompletos. Um espectro documental em processo de negação.
Podemos fazer diagnósticos brilhantes, prescrever tratamentos precisos, redigir receitas em receituários personalizados que mais parecem papel timbrado do Vaticano… mas, se faltar o carimbo? Nada feito. O papel vira rascunho. A assinatura, coitada, é figurante. O carimbo é o protagonista.
E mesmo que você mostre seu CRM, RG, CPF, carteira do plano de saúde, título de eleitor, carteirinha do Minas Tênis e a carteirinha de sócio vitalício do Fluminense… nada disso substitui aquela tinta mágica que diz: “Sou médico, sim. Agora você pode tomar seu antibiótico.”
Aliás, eu sinceramente não entendo como Gucci, Hermès, Prada ou Chanel ainda não lançaram suas coleções haute couture de estojos de carimbo. Imagine um estojo de couro italiano com fecho dourado para guardar o carimbo do cirurgião plástico. Seria o auge da elegância burocrática. Uma mistura de bisturi e Louis Vuitton.
Fica aqui a dica, registrada em cartório e com firma reconhecida: quero minha porcentagem nas vendas, e com direito a carimbo de autenticidade no contrato, claro.
Acho que o carimbo deveria ter um CRM próprio — afinal, sem ele, nem o antibiótico age. 😅
André Auersvald
Uma carimbada de gênio!
Henrique Radwanski
Muito bom!!!👏
Bernadete Blom
Muitoooo bom Cadu , vc
é genial! 👏👏👏👏👏👏👏
Mamãe te ama!
Tem razao CaduE ai o paciente chega na farmacia com a receita, com assinatura digital,e o balconista se enche de autoridade e decreta:Não tem carimbo!E nem se lembra que,ao perder a venda, ele tb não ganha. Prefere os seus 3 segundos de fama
,,, e dose, viu!
Abd
Julio Pinheiro
Muito bom, Cadu.
Por mais que me esforce não consigo acostumar com a necessidade do carimbo, onipresente na nossa vida, principalmente médica!!!!
E vamos levando!!!!
Mucio Leão
Muito boa essa sua crônica Leão! São sempre divertidas e reais! Abraço.
José Elcio
Viva a burocracia! Viva a credibilidade do carimbo!
Marcus Pestana
Maravilha. Impressionante… carimbo vale mais que documento. Abc.
Adissi
Pura verdade chefe !
Giselle Burgarelli
Bom dia ! Meus parabéns !
Aceite o carimbo de EXCELÊNCIA no seu formidável texto !
Abraços Fraternos!!!
Lincoln Lopes Ferreira
Muito boa essa sua crônica Leão! São sempre divertidas e reais! Abraço.
José Elcio
Muito bom !!
👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼
Jorge Abel
MARAVILHOSA CRÔNICA DOMINICAL!!! PARABÉNS CADU! VC É GENIAL AO EXPRESSAR SUAS IDEIAS, COM MUITA INTELIGÊNCIA E HUMOR! FICO LENDO E RINDO! FAZ BEM À ALMA! JÁ FAZ PARTE DO MEU DOMINGO!!!!👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏OBRIGADA🙏🥰
Sônia Saadi
Parabéns,Cadú.
Você acabou de “carimbar” sem carimbo !!!
👏👏😀😀
Alex Wagner
Excelente! Erudito sem pernosticismo, elegante sem frescura, afiado como um bisturi.
Parabéns!
Flávio Ramos
Excelente crônica Dr. Carlos!
Lembrando que para valorizar mais o futuro magnânimo do “Carimno” o Gov MG autorizou aumento de mais de 200% nas taxas dos serviços cartorários. Teremos carimbos até o infinito e além.
Errata: Carimbo
Que texto maravilhoso Cadu! Impossível parar de ler! Parabéns pelo tema, muito bem satiricamente desenvolvido!
Cido Carvalho
Boa crônica e atual parabéns mas o carimbo é um pouco mais antigo , vem dos selos desde a idade média ou antes .
Os carimbos remonta à 3000 AC na Mesopotâmia.
Alfredo
Corrigindo, remontam
Sensacional Leão !
Já aguardo suas crônicas aos Domingos.
Realmente quem somos nós sem este famigerado carimbo?
Colocações precisas da importância deste objeto secular .
👏👏👊
Excelente Dr Carlos Eduardo Leao
E a instituição suplanta a lei pois nosso CFM possui parecer (parecer 40/2019 – Não há obrigatoriedade legal ou ética para o uso
de carimbos em qualquer documento emitido por médico no
exercício profissional. O que se exige é que a identificação
esteja legível e conste o número do registro no Conselho
Regional de Medicina (CRM) de onde atue.) sobre o tema definindo que o carimbo é desnecessário desde que o nobre colega coloque o número de seu registro profissional. Agora experimenta fazer isso para ver se funciona.
Kkkkkkk! A mais pura verdade!
Fantástico!
Ticiano Cló
Dale Cadu maravilha, sintetizou esplêndidamente.
Victor Adissi.
Não viajo sem o meu. Em São Paulo para comprar um medicamento, com toda comprovação CRM CSH… RG…
não tinha carimbo. Nao consegui comprar.
Abc Vic
Pense como foi bem escrito, achei que iria ler pouco
Mas
Foi surpresa como entendi o valor do carimbo e tão bem resumido
Raul Seixas consegue se manter atualizado décadas depois….
Fantástico, caro amigo!!! Primeiramente, saudades de ler o que escreve! E por conseguinte, dizer que esse texto seu, foi maravilhosamente escrito!!! NUNCA, mas nunca mesmo havia pensado nisso… Um carimbo!! Parabéns pela crônica e pela talentosa maneira com que descreveu tão “esquecido” objeto! Grande abraço!!! Ian Duarte
Bom dia, caro amigo Cadu. Excelentes verdades. Parabéns. Grande abraço.
Hélio Arêas
Ah! Que delícia de música … meus filhos adoravam! E o Brasil não evoluiu em nada na burocracia desde então , mas as músicas, como pioraram!!!
Atágide Assunção
Seu texto merece um carrinbo de primeiro lugar !
PARABÉNS .
JUAREZ ANDRADE JR crm.mg 17504 ( se precisar de comprovação eu carimbo )
Top !!👏👏👏👏👏👏👏👏🙏