“Oi gente, aqui é a Cloroquina e nunca podia imaginar que depois de velha alguém pudesse lembrar de mim dessa maneira. Até crônica eu mereci e fui chamada de “meu amor”. Tô tão emocionada! Pra quem não sabe, sou uma senhora de 86 anos e nasci de parto normal pelas mãos do Dr. Hans Anderson, pesquisador da Bayer nos idos de 1934. Século passado, viu gente! Tô na praça há muito tempo, sou velha de guerra, velha conhecida dos clínicos e agora, sendo eficiente contra o Covid19, inesperadamente tornei-me uma estrela internacional”.
“Não era nada conhecida do público porque, na maioria das vezes, trato os portadores de malária que, apesar de um flagelo para a humanidade até hoje, afeta predominantemente uma população menos favorecida que, infelizmente, não dá o menor Ibope. Vocês acreditam que em 2018, 228 milhões de pessoas foram afetadas e 400 mil morreram de malária? Só no Brasil foram quase 200 mil infectados? E seriam muito mais não fosse eu. Além disso, trato o lúpus, a artrite e outras dermatopatias. Eu tenho uma irmã caçula, a Hidroxicloroquina (Hidroxi para os íntimos) que também me ajuda nessa luta. Ela nasceu em 1946 e quando alguém tem uma certa resistência à minha pessoa, ela entra em ação. Em sou mais popular mas agimos praticamente igual e não fico triste quando a escolhem”.
“Fico triste quando falam que nossos efeitos colaterais são muito importantes. Todas as minhas colegas, Dipirona, AAS, Penicilina, Sulfa, Azitromicina, causam efeitos tão ou mais sérios e ninguém fala nada. Como tudo na vida, os excessos têm seu lado negativo. Se me usam com cautela sou mais um remédio comum. Embora raro, existem pessoas mais sensíveis e, pra essas, os cuidados são tomados”.
Dona Cloroquina, permita-me interrompê-la neste seu memorial, mas como a senhora se sente no combate a esse vírus chinês?
“Sinto-me incomodada, Dr. Leão. Sou uma medicação mais do que comprovada e respeitada na prática médica. Em “Observação Clínica” que, diga-se de passagem, é medicina séria, está comprovado, por infectologistas respeitados mundo afora, o meu efeito eficiente contra esse micróbio. Claro que a comprovação científica, base da medicina Hipocrática, é importante, mas nesse caso é de somenos relevância. Vivemos uma pandemia. Estamos em calamidade pública. É um “estado de guerra” com a morte rondando as pessoas. Se eu fosse uma desconhecida da ciência, vá lá! Mas não sou”.
“Eu sei que o senhor raramente me receita, mas receita muito a minha amiga Finasterida pros seus “carecas”. Ela é um pouco mais nova. Regula com a minha irmã, Hidroxi. No início de sua vida, a Finasterida era exclusiva dos Urologistas para tratar o aumento benigno da próstata. Com o tempo, a “observação clínica”, mostrou a sua eficácia na calvície e, há mais de 20 anos, ela é usada também pra esse fim. A comprovação científica foi atestada. Houve tempo suficiente para esse processo. E na medicina, são raras as “observações” que não sejam comprovadas mais tarde. Fiquei muito triste em saber que existem médicos importantes e formadores de opinião que aproveitaram de minha eficácia e sonegaram essa informação tão relevante à ciência e ao interesse coletivo. Será que eles leram mesmo o Código de Ética de vocês?”
“Leve à frente esse meu depoimento, Dr. Leão. Eu sou uma velha senhora conhecida da Medicina. Há uma esperança na minha eficácia que nunca passou pela minha cabeça. E se eu puder fazer, novamente, alguma coisa pela vida, farei com o mesmo amor que dispenso aos desafortunados da malária, lúpus e artrite. Que Deus ilumine os que decidem pela pandemia.”
Muito obrigado, Dona Cloroquina. Vou levar à frente sim. Sua humildade, dentro de uma grandeza sem precedentes, encanta e emociona. Que a senhora esteja certa pois a esperança lhe aguarda.
Um beijo.
Fontes pesquisadas
https://news.un.org/pt/story/2019/12/1696561
http://www6.ensp.fiocruz.br/visa/?q=node/2083
https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2019-04/casos-de-malaria-no-brasil-tem-queda-de-38