Resolvi me aprofundar um pouco mais no hit do momento, bebê reborn. A Internet (santa Internet!), permitiu-me um tour virtual pelas vitrines do mundo.
Pude observar, com muita acuidade, um boneco feito para parecer um recém-nascido, desses que nos desafiam a distinguir o real daquilo que foi meticulosamente fabricado com requintes de perfeição.
Confesso que, por um instante, reagi como se fosse algo real. Uma sensação involuntária de ternura, um susto que a beleza às vezes provoca ou aquela percepção de que Deus às vezes exagera por tanta sublimidade.
Perdi alguns bons minutos olhando cada boneco adormecido. Tão perfeito, tão silencioso! Não senti nem desprezo nem indiferença pela situação surreal a nós imposta atualmente, mas apenas um certo espanto e, ao mesmo tempo, uma tristeza velada pelos caminhos escolhidos por parte de uma humanidade doente.
O bebê reborn é mais do que um boneco. É o reflexo siliconado de uma sociedade exausta. Cuidar de alguém de verdade virou luxo e risco. É muito mais fácil cuidar de algo que não responde, que não reclama, que não cresce, que não te culpa por traumas de infância. Um verdadeiro sonho em forma de borracha.
O reborn é o afeto impoluto. O simulacro do vínculo sem o trabalho e sem a entrega. É a típica maternidade sem suor, sem sono, sem preocupação, sem o cansaço das longas madrugadas, sem o choro do meio da noite, sem a febre que não baixa. É a maternidade de vitrine. Talvez o que esse bebê sem alma nos mostre seja justamente o quanto, hoje em dia, tem-se medo do que é vivo, do que erra, do que exige.
Enquanto isso, as mães reais seguem invisíveis e sem qualquer glamour. São as que acordam cedo, pegam dois ônibus com o filho no colo, fazem malabarismos entre dois empregos, enfrentam filas de postos de saúde. As que improvisam brinquedo com garrafa pet. As que criam sozinhas e, ainda assim, são julgadas por tudo: se trabalham, se não trabalham, se amamentam, se não amamentam. Essas não ganham likes nem comentários nas redes sociais. Essas não são vitrines.
O reborn é o filho ideal. Imóvel, belo, inofensivo. Um filho que não exige nada além de contemplação. Um filho que não chora. Apenas bomba no Instagram exibindo fraldas caríssimas ou um body da Chanel Baby para a alegria infinda de uma maternidade cenográfica.
Bebês reborn são a prova de uma sociedade desiludida e enlouquecida, esta mesma que leva esses seres desalmados para as filas de vacinação no SUS, que paga caríssimos advogados pelo pátrio poder do bebê imaginário, que exige lugar nas filas prioritárias em aeroportos ou supermercados, que reivindica o direito de licença maternidade, que clama pela garantia de herança para a criança fake, pelo direito aos passaportes e vistos para um ser quimérico, entre outras reivindicações paranóicas.
Enquanto isso, problemas tolos como guerra no leste europeu, rombo nas aposentadorias, desigualdade social, inteligência artificial descontrolada são deixados de lado porque o mais importante hoje é dar mamadeira para um pedaço de vinil com bochechas rosadas e cílios colados à mão.
A idiotização da humanidade não está completa, mas estamos caminhando com fé. Mesmo porque, quem precisa de um diploma quando pode ser “mãe reborn influencer” com 500 mil seguidores e um enxoval de 30 mil reais?
Mas não devemos julgar. Talvez o bebê reborn seja, de fato, o filho perfeito para uma geração imbecilizada. Se essa turma resolvesse procriar poderia ser algo muito pior. Lembremos sempre da máxima de Oscar Wilde de que “os loucos às vezes se curam, os imbecis nunca.”
Excelente crônica! Realmente neste quesito a humanidade está imbecilizada,um absurdo.
Ameeeeei!!!! Irretocável!!! Falou tudo!!!! Mas o último parágrafo foi simplesmente sensacional!!!!!
Parabéns!!!!
Silvana Leão
Perfeita análise de um comportamento tão deprimente. Com tanta criança precisando de amor…🥺
Calú
Não sei o que é mais deprimente: uma sessão do Senado ou uma mulher levando bebê reborn para o hospital.
Marco Lacerda
Coisa mais esquisita. Assim caminha a imbecil humanidad
Abraco Cadu
Julio Pinheiro
Continuas um campeão da palavra. Daher
Geraçao imbecilizada! Perfeito texto e observaçoes!
Texto perfeito!!! Concordo demais: Geraçao imbecilizada!
Adorei. É realmente uma humanidade desgastada, mas eu iria mais longe. O ser humano precisa ser, no mínimo, reiniciado, quiçá começar do zero. ABraço
Valter Bernat
Cadú, voce expressou objetiva e elegantemente o que é, realmente, esse objeto-boato nesses tempos aziagos. Na verdade, esses bonecos “perfeitos” não são recentes. Mas se tornaram “famosos” agora e aqui, pelo perfil da sociedade em que estamos vivendo. Uma sociedade movida a mentiras e ilusões. Deus se apiede de nós! Evaldo
Parabéns Carlos Eduardo! Como sempre,vc definiu muito bem,com palavras muito bem colocadas,está nova modalidade dos tempos atuais! Amei!
Muito bom! Disse toda a verdade sobre estes idiotas psiquicos
As crianças perderam a infância, vivem num mundo de celulares, maquiagem e televisão. Quando adultos querem voltar a infância, brincando com bonecas ou num mundo de faz de conta regado a álcool ou temperado com drogas, expondo na internet uma felicidade fictícia. Será que teremos, em breve, um novo gênero, de pessoas que farão sexo exclusivamente com bonecos?
Uau só vdds
Parabéns 👏🏽👏🏽👏🏽
ótimo texto .
Cleonice Rodrigues
Texto perfeito. É assim lá vai a humanidade se deteriorando a passos lagos e a plateia aplaudindo de pé. Até onde ??
Parabéns por essa exelente crônica . Realmente é fora de meu alcance , é muita loucura . Abraços , Nina .
Ótima crônica, como sempre
Bhering
Excelente Cadu! Disse tudo. Até onde vai a idiotice das pessoas! Parabéns!
Cido Carvalho
Concordo plenamente ‘
Falou tudo meu amigo !
Mais um absurdo da humanidade .
Menegazzo
Boa noite,Cadú.
O seu texto foi perfeito.
Mas a “maternidade cenográfica” me resumiu tudo .
Abração.
🙌
Alex Wagner
Boa noite ! Desta vez meu cumprimento será pela sua tenacidade e estômago forte para “abortar” este inefável tema !
Parabéns !
Sem mais !
Lincoln Lopes Ferreira
Boa Cadu!!!!
👍💚❤️💚❤️
Benjamim Gomes
Certeiro mais uma vez. Perfeito!
Ticiano Cló
Meu prezado amigo , este é um retrato fiel da atualidade sociedade ,‘mulheres de qualquer idade , brincando de boneca, com severos traços de desvios de comportamento .
Perfeito ,texto atual, com um final perfeito resumindo com a frase de Oscar Wilde : A imbecilidade não tem cura ! 👋👋👋👋👋👋👋👋👋👋👋👋
É isso! Melhor análise que vi até agora, prezado doutor! Só acho que quando essas pseudo mães entrassem nos hospitais, deveriam ser imediatamente encaminhadas ao setor psiquiátrico, com direito à companhia de seus brinquedos de estimação!
Atágide Assunção